QUE PROFESSOR FUI EU??? REFLEXÃO SOBRE O PIBID COMO UM DIVISOR DE ÁGUAS NUMA PRÁTICA DOCENTE.

Trabalhando na educação há praticamente trinta anos, eu, Professor Paulo Sergio de Oliveira, passei por muitos projetos, principalmente aqueles vindo do governo estadual como por exemplo, o Reinventando o Ensino Médio - REM, o Projeto Escola Sagarana, o Projeto Veredas, entre outros. Todos eles tinham como primícia a busca de uma melhoria na educação mineira, no entanto, nenhum deles conseguiu, ao meu ver, cumprir o objetivo inicial, principalmente porque com a mudança de governo, embora do mesmo partido, esses projetos eram abandonados pelo caminho.  
                                                                                      
Outros projetos como o  Projeto PEAS,   que tratava sobre a afetividade sexual dos jovens começou a todo vapor, mobilizando milhares de professores em todo o Estado, também foi aos poucos perdendo o fôlego e paralisando suas atividades. De todos, esse era o projeto mais interessante, pois convidava os alunos a discutir o papel da afetividade na vida de cada um, porém, sem nenhum vínculo com disciplina escolar alguma, exceto a de ciências que podia até oferecer algum suporte conteudista. Há dois anos, ouvi falar sobre um projeto oferecido pelo governo federal aos professores de escolas estaduais, com apoio da Capes- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Imediatamente pensei comigo: -"Mais um projeto? Será como os outros?" Durante uma reunião pedagógica na escola onde atuo, fomos informados que duas professoras da Universidade Federal de Itajubá- Unifei participariam desta reunião e nos fariam um convite para nos inscrevermos e participarmos de um novo projeto da universidade em parceria com a nossa escola. Pelas explicações dadas, fiquei interessado, mesmo não entendendo muito bem como funcionaria esse programa denominado PIBID; pensava que fosse apenas como um oferecimento de estágio aos alunos das licenciaturas. Após as etapas de seleção de escolas e supervisores, comandadas pela coordenadora institucional do PIBID, a professora Flávia Marcatto, pude começar a fazer parte deste programa juntamente com um colega, pois nossa escola fora selecionada na área de matemática entre as demais escolas concorrentes da cidade.
Na primeira reunião geral onde se apresentaram todos os pibidianos (nome dado a todos os bolsistas que participam do PIBID) ocorrida no anfiteatro do prédio da Engenharia Elétrica, na Unifei, é que muitas dúvidas foram sendo esclarecidas e eu não sabia ainda o quanto minha prática docente estava para se modificar.
Sendo professores supervisores, eu e meu colega, o Professor Emerson Leandro, contamos com seis alunos licenciandos cada um, que acompanham nossas aulas de matemática nas turmas do Ensino Médio da Escola Estadual Major João Pereira. Esses licenciandos têm a missão de vivenciar a rotina de uma sala de aula, durante o seu período da graduação. Nesta convivência em sala, eles assistem às aulas, ajudam os alunos na resolução de exercícios durante as aulas, anotam possíveis problemas de aprendizagem e trabalham com intervenções pedagógicas com a finalidade de uma possível melhora nesta aprendizagem dos alunos da sala. Para planejar essas intervenções, os pibidianos contam com o apoio de uma coordenadora de área, a Professora Eliane Matesco. Eliane, extremamente competente e grande incentivadora deste projeto, também atua como professora da disciplina de Prática de Ensino, na graduação. Para que este projeto continue sempre fiel aos objetivos a serem alcançados, temos semanalmente uma reunião (imagem abaixo) onde tratamos de diversos assuntos referentes aos projetos de intervenção e leitura de textos científico-pedagógicos, entre outros. 

Ao contrário de muitos alunos que sempre estiveram comigo nesses anos todos de experiência, incluindo alguns estagiários, esses alunos pibidianos são extremamente responsáveis, dedicados e sempre me deixam a impressão que gostam do que estão fazendo e que querem realmente ser professores.
No início, ao recebê-los em sala de aula, não tinha a ideia de quanto eles influenciariam e poderiam modificar minha prática pedagógica. Cada um dos licenciandos possui característica própria, e, aos poucos, foram proporcionando uma mudança na minha maneira de ensinar. Eu imaginava que já sabia de tudo, que minha metodologia era perfeita e que nada mais poderia aprender ou modificar. Ledo engano. Posso dizer que desde os primeiros meses de convivência com esses pibidianos senti que alguma coisa estava se modificando no meu fazer pedagógico. Com eles comecei a compreender que o foco deveria estar mais na aprendizagem do que nas notas da sala em geral. Comecei a trabalhar de maneira diferenciada, valorizando mais o fazer do aluno do que sua reprodução daquilo que eu tinha "passado na lousa". Através da troca de experiências percebi o verdadeiro sentido da contextualização de determinados conteúdos e a importante relação do assunto estudado com o cotidiano de cada um. Conheci a metodologia da investigação. Diante dessas mudanças eu me questionava: Que professor fui eu? Por que não tinha pensado dessa forma desde o início de minha carreira? Muita coisa poderia ser dada de forma mais participativa, não sei, talvez até de forma mais atrativa. 
Hoje, tento trabalhar de forma que todos os meus  alunos sejam menos copistas e mais    
protagonistas do seu próprio aprendizado, e isso graças à presença no PIBID em minhas aulas. A imagem ao lado, representa umas das aulas práticas do projeto "Frações engarrafadas" trabalhado com alunos do 6º ano no pátio da escola. Pelas conversas nos corredores da escola com alguns colegas professores, consigo enxergar a diferença entre o que eu era  e o que eu sou hoje como educador.  Baseado no que eles relatam de como foram suas aulas, consigo perceber que eu atuava exatamente como eles ainda o fazem hoje. Como também atuo no Ensino Fundamental no turno vespertino, levo toda essa experiência recém adquirida às minhas aulas, deixando-as mais atrativas possíveis. Muitos objetos matemáticos que foram construídos no L.E.M. em oficinas com alunos do ano anterior, agora fazem parte das minhas aulas, como por exemplo o dominó de frações, o pentaminó e o boliche matemático. Tantos anos ensinando e cobrando regras de soma de números inteiros e não imaginava que um simples jogo de boliches pudesse fazer com que os alunos aprendessem mais rápido e ainda se divertindo. 
O L.E.M.- Laboratório de Ensino de Matemática, foi um dos projetos de intervenção trabalhados com alunos dos 2º anos. Nessa prática, os alunos voltavam no contra turno para construírem objetos que seriam utilizados em sala de aula. Os alunos bolsistas responsáveis por este projeto foram Patrick Eduardo, Paula Borges e Giovana Julião. A imagem ao lado remete a uma das oficinas do LEM onde os alunos estavam construindo "copos combinatórios".  Outra intervenção pedagógica trabalhada em sala de aula pelos pibidianos  que me chamou a atenção foram as oficinas do Projeto "De olho no Enem". Sentindo que os alunos do 3º ano estavam preocupados com a prova do ENEM e que alguns conteúdos estudados haviam sido esquecidos no passado, os alunos pibidianos Mateus e Allan então propuseram algumas oficinas com temas baseados nas sete competências exigidas no ENEM. 


Os alunos, uma vez por semana voltavam também no contra turno para realizar as 7 oficinas propostas. Estas aulas eram ministradas na escola às 5ª feiras e na própria universidade aos sábados para quem não dispunha do tempo da 5ª feira à tarde. Este ano, este projeto fora modificado e trabalham-se oficinas em sala de aula e, além disso, os alunos tiram suas dúvidas virtualmente através de um grupo criado na rede social, especialmente para este fim. Com a saída de Allan do projeto, a aluna pibidiana Lígia Andrade trabalha em parceria com Mateus Francisco para que o "De Olho no Enem" continue a ajudar meus alunos a se prepararem para a avaliação do Enem no final do ano.  
                                               
Uma das mais recentes oficinas do "De olho no Enem", foi o trabalho interdisciplinar "Terremotos", trabalhando em conjunto as disciplinas de Matemática e a de Geografia. Em matemática, utilizando os estudos de logaritmo e circunferências, os alunos aprendem a diferenciar Magnitude, Epicentro, fazer análise de Sismogramas, etc.  Através de traçados de circunferências, conseguem localizar o epicentro de um dado terremoto.  Além disso, localizam através dos mapas os lugares que mais sofrem abalos e analisam ainda a escala Richter e diferenciam através dela os danos e impactos causados pelos terremotos de acordo com sua magnitude. 
Outra intervenção que tirou literalmente os alunos do 2º ano da sala de aula foi o uso do teodolito para se medir distâncias e alturas de prédios, árvores, torres, etc., utilizando como conteúdo, as razões trigonométricas: seno, cosseno ou tangente de um ângulo do triângulo retângulo. Construídos no L.E.M., com um material simples, barato e do cotidiano dos alunos, o projeto "Teodolito", (figura ao lado), em consonância com esses estudos de Trigonometria, conseguiu concretizar os estudos de sala de aula com dados do dia-a-dia, dando um maior sentido entre o que se aprende na escola e o que se vivencia na prática diária. 
O uso dos teodolitos possibilitou uma bela discussão em sala de aula, pois ao terminarem os trabalhos práticos no pátio da nossa escola, tiveram o momento da socialização, em sala, dos resultados que foram obtidos na prática. Na imagem ao lado, uma aluna do 2º ano faz observações no teodolito, enquanto um colega anota os dados que ela repassa para os cálculos pedidos na atividade.
Com os alunos do 1º ano, continuamos a trabalhar com investigações das funções do 1º grau, utilizando o software dinâmico GeoGebra. Essas aulas investigativas acontecem no laboratório de informática da nossa escola e buscam levar os alunos a compreenderem melhor os parâmetros de uma função afim, por exemplo. Através de textos e exercícios de fixação e com ajuda da tecnologia, a aula se desenvolve de uma maneira dinâmica. Esse projeto é coordenado pelas alunas bolsistas Paula e Francielly. Em sala, os alunos do 
1º ano possuem dificuldades de atenção e foco na matéria estudada, no entanto, no laboratório conseguem responder aos questionamentos propostos pela atividade investigativa (imagem ao lado). Quando os alunos pibidianos precisam faltar para trabalhar nos planos de aula, imediatamente ouço os questionamentos: Onde estão os alunos da Unifei? Por que faltaram hoje? Isso demonstra que a presença deles em sala de aula se tornou importante para todos. Deste modo, não tenho nada a reclamar, muito pelo contrário, tenho muito a agradecer pela oportunidade de fazer parte deste projeto que tem se firmado em nossa escola. Espero, então, que o PIBID não acabe como os projetos citados no início desta reflexão, devido à sua tamanha importância tanto para os alunos da graduação, tendo oportunidades para vivenciar a sala de aula antes de sua formatura, quanto para mim e os alunos do Ensino Médio recebendo aprendizados por intermédio de novas metodologias. Apesar de algumas intempéries cotidianas, o que considero normal no dia a dia de uma escola estadual brasileira, a nossa escola ganhou e muito com essa parceria entre ela, a universidade e a CAPES. A imagem abaixo imagem revela quão queridos são os bolsistas pibidianos pelos meus alunos do 3º ano. Todos os alunos sabem que com a presença deles, alguma novidade está para acontecer. Algum conteúdo será trabalhado de maneira diferente, curiosa e atrativa, fugindo das mesmices de algumas práticas docentes.
Selfie com bolsistas pibidianos e alunos do 3º ano.



Professor Paulo Sergio de Oliveira
profpaulomjp@yahoo.com.br